Tá aí uma doença que sempre tive muita dificuldade de entender. E então, devidir estudar de novo. Tirei essa semana pra estudar as discrasias plasmocitárias após acompanhar algumas pacientes com mieloma múltiplo.
Dependendo do livro, a crioglobulinemia pode ser insirida no capítulo da hematologia, nas discrasias plasmocitárias (exemplo do Cecil), ou na reumatologia, nas vasculites (exemplo do Harrison). Mas afinal, o que é a crioglobulinemia?
Encontrei então este artigo do NEJM, entitulado “Cryoglobulinemia — One Name for Two Diseases”1. O artigo fala exatamente sobre essa dificuldade de classificar a crioglobulinemia como apenas uma única entidade. Na verdade existem três tipo, sendo que o tipo 1 está muito mais próximo de ser uma neoplasia hematológica, enquanto que os tipos 2 e 3, chamados em conjunto de “crioglobulinemia mista”, são muito mais uma doença autoimune.
O que une as duas entidades, a crioglobulinemia tipo 1 e a mista, é a base de ambas, o circulação de crioglobulinas, proteínas que em condições frias acabam ficando insulúveis e causando problemas. Sendo que, na tipo 1 o efeito disso é muito mais mecânico, por microtrombos intravasculares, e na segunda o efeito é muito mais autoimune, por deposição de imunocomplexos dentro dos vasos.
Recomendo fortemente a leitura desse artigo do NEJM, é muito exclarecedor pra de fato entender o que é a crioglobulinemia ou, na verdade, o que são as crioglobulinemias.
A epidemiologia traz uma prevalência estimada de 1 caso a cada 100.000 (ou 10 a cada milhão, como gosto de trazer)2. Para termos noção, a HPN (hemoglobinúria paroxística noturna), que é raríssima, tem prevalência estimada de 1-10 casos por milhão3. Já o lúpus, é estimado uma prevalência nos EUA de 200-1.500 casos por milhão4.
Gosto muito do UpToDate que sempre trazem um parágrafo resumindo “quando suspeitar desse diagnóstico”, que trago abaixo:
When to suspect the diagnosis — The range of clinical presentations associated with the various cryoglobulinemia syndromes is broad, but some of the more common features include arthralgia, purpura, skin ulcers, glomerulonephritis, and peripheral neuropathy. The index of suspicion for cryoglobulinemia should be raised further if these occur in the setting of a clonal hematologic disease (eg, multiple myeloma, Waldenström macroglobulinemia), viral infection (eg, hepatitis C virus [HCV], hepatitis B virus [HBV]), or connective tissue disease (eg, systemic lupus erythematosus [SLE], Sjögren’s disease, or rheumatoid arthritis).
Overall, the presence of a measurable amount of cryoglobulin (cryocrit) with a low C4 complement level remain the most prominent laboratory hallmarks of cryoglobulinemia syndromes [53]. Several other serologic findings have often been reported, but none are pathognomonic since they are often encountered in healthy individuals and/or other confounding medical conditions.
Cacoub P, Vieira M, Saadoun D. Cryoglobulinemia — one name for two diseases. Longo DL, ed. N Engl J Med. 2024;391(15):1426-1439. doi:10.1056/NEJMra2400092 ↩
Overview of cryoglobulins and cryoglobulinemia. UpToDate. This topic last updated: Jun 10, 2024. ↩
Clinical manifestations and diagnosis of paroxysmal nocturnal hemoglobinuria. UpToDate. This topic last updated: Nov 27, 2024. ↩
Systemic lupus erythematosus: Epidemiology and pathogenesis. UpToDate. This topic last updated: Nov 11, 2024. ↩